A cegueira metaforizando a destruição social


Lara Letícia Fernandes
1º Ano do Ensino Médio

Ensaio sobre a Cegueira, filme dirigido por Fernando Meireles baseia-se no  romance do escritor José Saramargo, publicado em 1995, se tornando uma das mais famosas obras do autor. O livro conta a história de uma inexplicável epidemia de cegueira branca – assim chamada, pois as pessoas passam a enxergar tudo branco, como um mar de leite.  De acordo com o filme, a doença manifesta-se primeiramente em um homem parado num sinal de trânsito e, aos poucos, atinge a população do país inteiro. Com quase todos cegos, exceto uma única mulher que por motivos desconhecidos não é afetada, a história se resume na ascensão dos instintos primitivos e na busca da sobrevivência.
            No entanto, o objetivo do filme não é prender a atenção de quem vê para a cura da doença, na verdade, ele busca e incita a reflexão, o pensar sobre o assunto. Por que apenas uma mulher comum, que não é poderosa ou influente, é a única que continua a ver? Por que a cegueira é retratada como uma doença epidêmica, quando realmente não é? A cegueira é representada como sendo apenas uma deficiência física visual? Será que uma pessoa que vê realmente enxerga mais do que uma pessoa cega? São perguntas que mexem de verdade com o senso crítico dos indivíduos que se interessam realmente por aquilo que o autor quer mostrar.
    Como muitos pensam, a cegueira não aparece como uma epidemia para representar somente uma doença. Ela é colocada dessa forma, pois significa uma lista muito mais ampla do que aparenta. Significa a pobreza do caráter do ser humano de hoje; o desmoronar completo da sociedade; a falta de consciência da humanidade; a “imundície” que a população se encontra mergulhada, relacionada aos valores e princípios que atualmente são ensinados.
            A doença aparece na forma de epidemia, quando na verdade não é assim que acontece. Ela foi representada dessa maneira simbolizando e metaforizando o medo, a perda da ética, de valores e do caráter, impregnando todos e corroendo tudo que restava de bom.
             Apenas uma mulher, dentre todo o resto da sociedade, continuou a enxergar. Ela não era rica, famosa ou importante, era uma mulher comum, parecida com as outras, mas diferente em um único atributo. O mais valioso e raro de encontrar, mas também o mais belo e que para a infelicidade das pessoas foi sendo esquecido, o bom caráter. Essa personagem foi a única que continuou a ver representando assim, as pessoas boas. Aquelas que se preocupam com o próximo, que possuem dignidade e desempenham a ética com a moralidade necessária e que não perdem seus valores pressionadas na vivência de uma situação difícil.
            Ensaio sobre a Cegueira tenta mostrar para as pessoas “a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”. A obra alerta a sociedade para prestar atenção no mundo em que elas estão vivendo. Na importância que a personalidade forte e as boas ações possuem. É uma crítica sobre aqueles que veem, mas não enxergam verdadeiramente. Saramago obriga as pessoas a parar, fechar os olhos e ver. Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente.

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